O CARTÃO POSTAL E SUAS MEMÓRIAS
Ele é um senhor prestes a completar 85 anos. Já passou por graves dificuldades, inclusive um incêndio, que aconteceu em 1980, que o manteve fechado por 15 anos. Apesar disso, o Theatro Pedro II mantém sua imponência e continua emocionando artistas e espectadores. Uma testemunha ocular da história de reconstrução é o engenheiro José Arthur Damião Jaquinta, atual diretor administrativo da Fundação Pedro II, que acompanha a rotina deste grande cartão postal de Ribeirão Preto.
“Ainda tenho na minha memória a recordação da primeira vez que entrei aqui para iniciar o processo de reforma, restauro e modernização do teatro. Me lembro que tiramos um tapume ali da porta e então eu entrei. Caminhei pela plateia e me dirigi até a boca de cena. Aquela coisa sombria, o ambiente acinzentado, me deu uma sensação de que o fogo ainda estava ali, em algum lugar”, explica Arthur. Ele relembra essas memórias sentado em sua mesa de trabalho, que fica ao lado da imponente Sala dos Espelhos. “A história do teatro se assemelha à da fênix, que renasceu das cinzas. Eu tenho mais um filho aqui. É meu filho de concreto”.
Os corredores do teatro guardam muitas histórias que povoam o imaginário popular. Uma delas gira em torno da passagem que ligava o teatro ao prédio do Palace, que antigamente era um hotel. A passagem ainda existe, mas está bloqueada por uma porta e uma parede que guardam em silêncio os segredos dos encontros entre coronéis do café e as dançarinas que apresentavam no teatro.
Antigamente, o local onde atualmente existe a sala Meira Júnior, que abriga palestras e shows para até 200 pessoas, era chamado de a Caverna do Diabo, onde eram realizados bailes de Carnaval. “Na época o local era apenas um salão de baile. Para entrar os foliões passavam por dentro da boca de um diabo. No projeto de reforma, o local se tornou uma nova sala de espetáculos”, ressalta o diretor.
Outro episódio marcante do período de reconstrução foram as visitas da artista Tomie Ohtake que elaborou o projeto do teto do teatro. Arthur relembra que ela visitou o teatro algumas vezes, no período da reforma. “Em uma destas ocasiões, fez questão de subir nos andaimes para, pessoalmente, conferir o andamento da obra, que é feita com placas de gesso. Os funcionários já haviam feito um quarto da obra, mas o resultado não agradou a artista. O trabalho teve de recomeçar”. O resultado é o belo contraste entre a modernidade do gesso recortado e pintado em verde com estilo do teatro que é Art Déco.
Do contato com os inúmeros artistas que já se apresentaram no Theatro, Arthur se lembra de ter presenciado a emoção do ator, autor e diretor Marcos Caruso, que, durante um ensaio subiu ao palco e permaneceu, durante alguns minutos em silêncio, observando a imponência desta casa de espetáculos.
Outro episódio marcante foi a apresentação do grande bailarino Mikhail Baryshnikov, que presenteou a diretoria do teatro com a sapatilha que usou durante o espetáculo.
Ele presenciou ainda a preocupação da equipe de segurança que acompanhava a Orquestra Sinfônica de Israel, regida por Zubin Mehta. Com a ajuda de cães farejadores, os seguranças fizeram uma varredura no teatro, à procura de explosivos.
Entre uma recordação e outra, durante a entrevista, era possível ouvir o som do piano, no ensaio do próximo artista que se apresentaria dali a poucas horas. E assim, de aplausos em aplausos, a história continua a ser escrita.
(Leticia Tozetti – Jornal Tribuna)
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