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TURISMO SURGIU NO SÉCULO XIX COM BARCOS A VAPOR E TRENS

Atualizado em: 13, out, 2015

O mundo inteiro está viajando”, escreveu o escritor alemão Theodor Fontane (1819 -1898) no seu ensaio “Modernes Reisen” (Viagens modernas, em tradução livre), há quase 150 anos. Ele estava certo. Só em 2014, mais de 1 bilhão de pessoas deixaram seu país para passar férias no estrangeiro.

Esse fenômeno de massa começou como o prazer seleto de poucos. “O turismo, ou seja, viajar com o objetivo de apreciar a viagem e nenhuma outra finalidade, começou durante o período do romantismo, no final do século 18”, explica o professor Hasso Spode, diretor do Arquivo Histórico de Turismo da Universidade Técnica de Berlim.

Foi quando poetas e artistas descobriram a beleza da natureza. Uma mudança significativa, pois apenas alguns anos antes, Spode explica, em uma viagem para a Itália, o historiador de arte Johann Joachim Winckelmann (1717-1768) relatou insistentemente como as janelas de seu coche precisavam ser cobertas para poupá-lo da “paisagem horrível.”

Influência de Goethe

Quando Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) visitou a Itália pela primeira vez, esse era um passatempo pelo qual poucos podiam pagar.

A teoria de Goethe de que “uma pessoa inteligente recebe a melhor educação ao viajar” é tida como os primórdios do turismo moderno. Naquela época, apenas jovens membros da nobreza passavam um ano ou mais em um grand tour. O objetivo das viagens dos cavalheiros de então era educar e refinar os seus costumes sociais.

Relatos de Goethe em Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister e descrições de outros viajantes despertaram um anseio nas demais pessoas a também se aventurarem no exterior. Um número crescente de membros da classe média alta empreendeu um petit grand tour, que os levava para destinos até então pouco atraentes, como os Alpes e o mar.

O guia de viagem

Enquanto viajam, eles dependiam, muitas vezes, da ajuda de estranhos, algo que o então jovem editor Karl Baedeker (1801-1859) usou a seu favor.

Ele comprou os direitos para a publicação, em 1828, de “Rheinreise von Mainz bis Köln, Handbuch für Schnellreisende” (Viagem pelo Reno de Mainz a Colônia, um guia viajantes rápidos, em tradução livre). Isso marcou o nascimento do guia de viagem moderno. Baedeker publicou muitos outros guias, incluindo a sua principal obra: “Deutschland und dem Österreichischen Kaiserstaat” (Alemanha e o Império Austríaco, em tradução livre).

Baedeker fez muitas viagens ele próprio e não poupava o que ele considerava serem dicas úteis. Seu conselho para a Suíça, por exemplo, era “nunca mais beber leite de vaca sem acrescentar conhaque ou rum”.

Muitos desses trabalhos acadêmicos podem ser encontrados no Arquivo Histórico em Turismo da Universidade Livre de Berlim. Além da literatura de viagem do século 17, seus 70 mil materiais impressos incluem mapas, cartazes e coleções de fotos privadas.

O pacote turístico

Novos meios de transporte, como os barcos a vapor que começaram a passar pelo Reno em 1827, derrubaram o custo das viagens, tornando excursões e cruzeiros acessíveis para cerca de 10% da população.

O primeiro “pacote de férias” foi criado em 1841 pelo inglês Thomas Cook. Ele organizou uma viagem de trem para cerca de 500 ativistas abstêmios partindo de Leicester para Loughborough. O objetivo era eles participarem de um comício em uma comunidade abstêmia. O pacote “com tudo incluso” incluía música, sanduíches e chá, bem como palestras sobre os perigos do álcool.

“Mas Cook não inventou as viagens organizadas”, reforça Spode. Ele simplesmente expandiu a ideia de um concorrente e transformou em um modelo economicamente bem sucedido. Isso incluía usar cartas de agradecimento de clientes famosos para gerar um efeito de marketing. Entre esses viajantes ávidos estavam o escritor Mark Twain (1835-1910) e o imperador alemão Guilherme 2º (1859-1941), diz o pesquisador.

Com a revolução dos transportes, que começou em 1850, mais lugares poderiam ser alcançados de forma mais barata por via férrea, tornando a viagem mais acessível e disponível para as classes médias.

“Na última parte do século 19, tornou-se uma marca de posição social para as classes médias sair de férias uma vez por ano,” explica Spode.

Em 1870, o Reno foi o destino de viagem mais frequentado do mundo. Mesmo naquela época, nem todos ficaram satisfeitos com o turismo de massas: “Há 150 anos, as pessoas que viviam às margens do Reno já se queixavam de que os viajantes, devido aos barcos a vapor e às vias ferroviárias, estavama se espalhando como uma praga de gafanhotos”, diz Spode.

 

(Terra)

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